Tínhamos
orgulho em aprender tudo sobre árvores e plantas. Sempre que víamos alguma
espécie nova, recebíamos uma aula ali mesmo. Quando íamos catar cipós e taquaruçus
para trançar balaios, o vizinho, especialista no assunto ensinava: Cipó de São João é forte e meio
flexível. Os mais grossos servem de base. A primeira amarra se faz com
unha-de-gato, que é bem macio e não quebra. No início juntamos as guias três a três.
Vamos separando aos poucos, tramando com tentos mais finos, para depois
aumentar a espessura. Não esquecendo de acrescentar uma guia a mais para formar
número ímpar. Assim a trança firma: ora por cima, ora por baixo, tecendo o
fundo do cesto.
Preciosidades eram com meu avô: Vejam aquele
tronco esbranquiçado, com nervuras na base perto do chão e liso para o alto. Um
tarumã. Madeira fria que não queima. É o melhor capitão de cerca. Não apodrece
nunca. Nem pega fogo.
Meu pai parou
na borda do mato: Estão sentindo o cheiro? É flor da corticeira do banhado. Pau
para fazer cortiça. Suas flores têm a forma de um patinho. Quantas vezes joguei
na sanga para ver flutuar na correnteza. Não sei por que, me leva a essas divagações
infantis; vagueio com suave emoção. *
A corticeira da serra é mais dura. Fornece tábuas leves usadas para
móveis e divisórias.
Conhecer
árvores pelas folhas, cascas e flores, fazia parte da iniciação. O grau máximo
do aprendizado era quando tínhamos que identificar tábuas e barrotes, com os
olhos vendados, descrevendo as espécies pelo cheiro das lascas.
- Essa é fácil! Cedro rosa.
- Outra.
- Canela-do-brejo. Boa prá cangas.
- E essa?
– Tem cheiro de angico. Usado prá cabeçalhos.
- Branco ou vermelho?
Porto Alegre, julho de 2017, Jorge Luiz Bledow.
Excelente texto. Estilo singelo, como o exige o tema. No tamanho certo. Sem faltas ou sobras. Parabéns
ResponderExcluirAdorei essa história do campo, Bledow. Não tive a felicidade de viver assim, mas lembrei muito da minha avó Conceição, que contava seus conhecimentos para mim
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