Como pode alguém viver sem arte?
Esquecemos
isso às vezes, mergulhados no dia a dia, no trabalho, estudo, diversão, tudo
passa batido. Agora o coronavírus nos obriga a reavaliar tudo, dando um tempo e
refletindo sobre a função da arte e de tudo. A arte amplia nossa percepção, estimula
a sensibilidade, a criatividade e, muitas vezes, é a forma possível de
convivência e reinserção social.
Simplesmente
não vivemos sem arte. É isso que tenho a dizer. Muitas vezes podemos até não nos
dar conta, mas a arte está sempre por imiscuída. Sem arte, sem ficção, a vida
seria impossível. Ela está na televisão, no futebol, na receita de bolo, nas
refeições. Nas músicas, nas piadas, até nos grupos de whatsapp. Está nos
jardins, nas roupas, nos carros, nos animais e plantas, suas formas e manhas.
Nas leituras, nas conversas – a 2 metros – na natureza, na religião.
Cada
um tem suas formas de se relacionar com a arte e usufruir dela com mais o menos
subjetividade. Associando a coisas mais filosóficas ou, outros, mais práticas.
Eu tento escrevendo crônicas. Pode até não ser arte, mas funciona e me distrai.
Me tira do real às vezes. Me põe no real, outras vezes.
Vejam
minha mulher. Ela resolveu estudar espanhol e, claro, agora tem aulas pelo
celular. Pratica em casa o tempo todo, nominando
as coisas todas na língua de Cervantes.
-
¿Qué passa. Ela me veio com essa.
Noutro
dia a surpreendi hablando com as plantinhas do jardim.
-
Conversando com os vegetais, é?
-
Qual a novidade, eu sempre conversei.
-
Sim. Mas agora é em espanhol.
-
Pois então. Eu estou apreendendo. Elas também. Nada mais normal. Me entendem.
Dei
de ombros deixando elas prosseguirem a conversa, mas não me contive.
-
Tudo bem. Enquanto elas ouvirem quietas.
-
Elas sabem ouvir.
-
Mas se começarem a responder, me avise.
-
Não se preocupe comigo e mis plantitas.
A
lá pucha! Mais arte. Conversar com flores e folhagens. Algo assim,
transcendente com o reino vegetal. Será que funciona também com os minerais?
Fiquei
pensando. Com certeza. Essa também é uma função da arte. Sem ela facilmente cairíamos
em depressão. Enlouqueceríamos mais ainda do que já acontece.
Eu
não me afeto com isso. Então: Viva la arte!
P.S.
Eu ia esquecendo de uma coisita. Tudo bem que minha mulher converse com
as plantinhas e coisas assim. Vejo que ela está bem. Nada de anormal, sem
stress. Único problema é mesmo com as plantinhas que acordam com os primeiros
raios de sol e, alguns vasinhos ficam bem próximos a janela do nosso quarto, e,
eu durmo justamente desse lado da cama. Bem cedo elas me perturbam com
conversas e fofocas. Vocês podem não acreditar, mas elas são tagarelas por
demais da conta!
Porto Alegre, 29 de março de 2020.
JORGE LUIZ BLEDOW –
E-mail bledow@cpovo.
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