- Alto lá! Quem vem lá?
- Sargento Melo! Rondante.
- Avança senha.
- Bandeira. Contra senha.
- Caneta.
A troca de palavras acima era entre o sentinela, eu, da hora e o rondante. Muitas guardas tirei no 6º RCB, no Alegrete no ano de 1977. E prosseguia com a apresentação:
- Soldado 630, Jorge, Esquadrão de Comando. Serviço sem alteração.
- Muito bem guerreiro, dizia o rondante. Anotava meu número na planilha e seguia seu roteiro.
A gente como recruta sonhava, em um dia ser o sargento e inverter os papéis. Deixar de ser soldado para ser o graduado. Pois aconteceu comigo.
Em 15 de janeiro de 1977, incorporei no Esquadrão de Comando e Serviço, Pelotão de Comunicações, da 6º RCB, no Alegrete. Fiz o básico de soldado. Fui cursar o CFC na 12ª Companhia de Comunicações e fiquei em condições de ser promovido a cabo. Assim que voltei pro meu Regimento, O 6º RCB, o capitão do Esquadrão de Comando me chamou e perguntou se eu queria fazer o curso de sargento temporário.
- Claro, eu falei.
- Então te prepara, disse ele. - Tua vida vai mudar.
Fomos enviados par São Luiz Gonzaga, no 4º RCB, para fazer o curso. No final de outubro voltei ao 6º RCB e fui promovido a Cabo e 3º Sargento temporário, sucessivamente e, internamente, fui classificado no 1º Esquadrão de Carros de Combate. Imediatamente, eu e mais 11, entramos para às escalas de serviço. Sargento de Dia no Esquadrão e Comandante da Guarda no Regimento.
Lembro
bem, quando em 15 de novembro meus conterrâneos deram baixa e voltaram à Três
Passos, eu estava de CMT da Gda no portão principal. Me deu uma vontade louca
de sair junto, mas, por outro lado, estava cheio de orgulho e servia de exemplo
aos meus colegas de farda.
À noite depois da revista, o Sargento Adjunto fazia às escalas de permanência e rondantes. Cmt da Gda ficava no último quarto, a partir das 4 horas, na permanência. E eu louco de vontade de entrar na escala da ronda.
Um dia calhou. Eu de Sgt de Dia do 1º Esquadrão, entrei na escala, 3º quarto, o pior, das 2 às 4 da madrugada. Depois do silêncio, 22 horas, fui dormir preocupado no quarto do Sgt de Dia na subunidade. O companheiro que fazia a ronda anterior, das 00 às 02 horas, deixou bem claro:
- Nem fala pro plantão. Deixa que eu mesmo te acordo.
Lá pela madrugada acordei. Olhei o relógio de pulso, 3:45! Ufa! Levantei preocupado. E agora? Queimei a hora. Calcei o coturno, a farda não se tirava, ajustei o cinto NA com a pistola no colder e saí no encalço do meu antecessor. No Corpo da Guarda, e indaguei o permanência. Este me informou que a turma toda Adjunto, Oficial de Dia, Sargentos de serviço, estariam na Sala de Meios do 4º Esquadrão de Fuzileiros.
Cheguei lá, a porta fechada, eu ouvia conversas animadas. Bati na porta. Toc! Toc! Toc!
Fez se silêncio e lá de dentro alguém gritou:
-
Avança senha?
- Farinha!
- Pode entrar. É do mesmo saco?
Abriram a porta e aí e verifiquei que jogavam uma animada rodada de truco.
- E aí recruta, eu era o mais moderno, o que veio fazer?
- A ronda, respondi preocupado dirigindo-me ao responsável pelo 2º quarto.
- Ah! A ronda. Puxou do bolso a planilha, desdobrou e apontando, falou:
- Assina aqui. Já fiz a volta prá ti!
Bom, nessas alturas já era 4 horas, a guarda estava sendo rendida e o próximo quarto de hora, das 4 às 6, era responsabilidade de outro sargento.
Ainda não foi dessa vez que consegui fazer a minha ronda e ouvir do sentinela:
- Avança senha!
Porto Alegre/RS, 29 de abril de 2020
JORGE LUIZ BLEDOW
E-mail bledow@cpovo.net
Para alguns, fazer essa tal de ronda, era uma BOBAGEM. Mas, se fôssemos, todos os rondantes, descrever o que acontece de ronda em ronda, de posto em posto, com certeza daria para escrever um livro com muitas páginas. Mas "queimar" na primeira ronda???...
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