Planejamento
é tudo na vida. Deveria se planejar os próximos passos e até o futuro até onde é
possível. E foi isso que fizemos.
Aquartelados
em casa, os mantimentos escasseando. Tempo prá pensar e refletir, parecendo
presidiários. Na engenharia há uma máxima, tipo assim: quanto mais tempo de planejamento,
menos problemas e tempo de obras. Não é bem isso, mas, é parecido. Ou seja,
temos que ter um plano de ação, para o que pretendemos fazer tenha mais chances
de sucesso.
Estamos
com um problema. Aliás, o planeta todo está. O coronavírus parou o mundo, e uma
atividade simples e cotidiana como ir ao supermercado, coisa banal até a semana
passada, hoje é uma verdadeira operação de guerra.
Eu
e minha mulher cruzamos a linha dos sessenta. Portanto, somos tecnicamente considerados
idosos. Com a geladeira e a despensa vazia, temos que ir às compras de vez em
quando. E isso exige planejamento.
-
O mercado abre às 07:30 para nós clientes preferenciais, falei para minha
mulher. Portanto vamos manhã bem cedo.
-
Claro, ela concordou. Vou me proteger com mangas compridas, luvas e máscara.
-
Vamos planejar tudo como se fosse um assalto(não imaginava que ela levasse tão
a sério). Fazemos duas listas de compras, uma prá mim, outra prá ti. Faço um
mapa das gôndolas, pegamos o carrinho de compras e entramos sem perder tempo.
-
É bem isso. Eu entro por um lado e tu pelo outro.
Nosso
filho que trabalha com TI, ouvindo a nossa conversa veio com essa: - Pai, se
fizeres um mapa com os produtos, posso criar um aplicativo para compras.
Instalo no celular e ele vai orientando vocês sem perderem tempo. ”Real-time”
-
É uma boa ideia, falei. Quem sabe uma Startup?
-
Fico monitorando vocês de casa e vou orientando quando há “engarrafamento de
corredores”, falta de produtos, caixas abertos, produtos vencidos, pessoas
suspeitas e até preços.
Isso
tudo no dia anterior. Não dava tempo para implementar um aplicativo. Colocamos
o plano em ação com os meios de fortuna que tínhamos ao nosso alcance.
Saímos
cedo de casa. Ainda no carro nos vestimos os EPIs. Depois aguardamos com o
carrinho de compras no local da largada. Quando abiu a porta do mercado minha
mulher gritou – Vamos!
Entrei
pelo corredor conforme plano, com a lista na mão; refrigerantes leite ovos(não
tinha) presunto e queijo fatiado margarina manteigas requeijão salsichas massa
fresca massa para pastel queijo ralado pão preto pão branco fatiado pão para
hamburger pão para hot-dog batata batata doce cebola cebola rocha alho berinjela
chuchu tomate alface alface americana salsinha cebolinha rúcula abóbora manga banana
mamão(pesar frutas e legumes) bife carne moída peito de frango frango congelado
amendoim torrado sem sal bananinha zero doce de leite chicles. Ufa!
Minha
mulher pelo outro lado: óleo de canola azeite molho de tomate catchup maionese
creme de leite café café solúvel filtro para café chá geleia diet arroz feijão
pipocas farinha de trigo polentina açúcar massa queijo ralado pimenta vermelha
joio caldo de galinha doce de leite papel higiênico guardanapos toalha de papel
sabão em pó amaciante sabão em barra álcool(não tinha) álcool gel (claro que
não tinha) saco para lixo detergentes desengordurante sapólio esponja bombril escovas de dente pasta de
dente. Deu!
No
corredor central nos encontramos. Dois carrinhos cheios!
-
Falta alguma coisa, perguntou minha mulher.
-
Não tem ovos.
-Eu
não consegui álcool e nem gel.
-
E sacos plásticos para alimentos?
-
Não peguei.
-
Vai indo para o caixa que eu te alcanço, eu disse prá ela.
Procurei
o corredor dos plásticos, ainda peguei papel laminado. Quando apareci minha
mulher gesticulava nervosa pois os produtos dela já rolavam na esteira da caixa.
Dei uma apressada com minha cara de
mascarado em direção ao caixa. Todo mundo nós olhando com cara de espantados.
Minha mulher de luvas, jaqueta, toca e máscara. Mas quê situação tchê!
Juro
por Deus! Se eu tivesse tossido o fiscal teria liberado a gente para cruzar sem
pagar!
Hoje
em dia, para sexagenários, fazer compras é uma operação complexa e ariscada.
Precisamos
urgentes de um aplicativo para esta tarefa, até porque, queijo ralado e doce de
leite, vieram duas vezes.
Porto Alegre, 24 de março de 2020.
JORGE
LUIZ BLEDOW – E-mail bledow@cpovo.net
O cotidiano virou um desafio!
ResponderExcluirDiante de uma saravaida de notícias, de todos os tipos, de todas as fontes (que bom foi na peóca do H1N1, QUE NÃO TÍNHAMOS REDES SOCIAIS!!) ficamos apreensivos e, às vezes, em dúvida até que ponto tantas recomendações são necessárias ou não.
ResponderExcluirUma verdadeira paranóia!
Mas, pelo sim, pelo não, vamos ficando em casa.
Muito Bom Bledow! Estas muito inspirado.Adir
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