Recebo
uma mensagem no whatsapp. Um texto de “O Amor em Tempos do Cólera”, do escritor
colombiano Gabriel Garcia Marques, representante da literatura fantástica da
América Latina. Gabo, como ficou conhecido, ganhou o Oscar em 1980,
principalmente pelo livro “Cem Anos de Solidão”. Não é sem intenção que
coloquei o título acima, já que estamos em tempos de confinamento.
Pois
no texto recebido, um menino se queixa da quarentena que o porto impôs, e o capitão
experiente, o aconselha a aproveitar esse tempo para incorporar novos e bons
hábitos.
Não
se inquietar, passar a comer a metade do quanto comia, elevar o pensamento, ler
pelo menos uma página por dia, praticar exercícios físicos, praticar respiração.
Resumidamente é isso.
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Naquele ano me privaram da primavera, e muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim,
floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de
mim.
Estamos
sendo privados de muitas coisas, e, talvez tenhamos que aprender a viver com menos,
com simplicidade. Com humildade, e levar isso dentro do peito, para sempre.
Minha
mãe conta, tenho uma tia como testemunha, que quando eu tinha uns quatros anos,
eu via os agricultores com roupas remendadas. Achei lindo aquilo. Pedi para mamãe
costurar um pedaço de pano colorido na minha calça. O problema é que o remendo
ficou na parte da bunda e eu me contorcia e puxava a roupa para poder olhar o
colorido diferente. Fiz ela costurar na parte da frente para ficar bem visível
aos meus olhos sem entortar o pescoço. Encantos de criança. O que significa? Simplicidade, talvez.
A
humanidade evoluiu na ciência, na tecnologia. Temos internet, imagens digitais,
aviões ultrarrápidos, inteligência artificial e tantas maravilhas mais. Porém,
em tempo de transmissão desenfreada do covid-19, faltam máscaras de proteção
pessoal. Inacreditável! Olhamos para longe, para o Universo, para o Infinito,
para o desconhecido, e esquecemos de olhar para o vizinho. Para às crianças.
Para os idosos. Para os excluídos e até para nós. Para o cotidiano, o simples.
“Um
intelectual é um homem que diz uma coisa simples de uma maneira difícil; um
artista é um homem que diz uma coisa difícil de uma maneira simples”. Charles
Bukowski.
Nos
falta o olhar do artista, da criança, da inocência. Procuramos algo no outro
lado do planeta e descobrimos que isso, está aqui ao nosso alcance.
“Se
queres ser universal, começa por pintar tua aldeia”, disse
Leon Tolstói.
Oscar
Wilde escreveu: “Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito
complexo”.
O poeta mineiro Manuel Bandeira: “Quero
a delícia de poder sentir as coisas mais simples”.
“As
palavras da verdade são simples”, disse Eurípedes, o poeta
trágico grego.
O
grande poeta letrista da música popular, cantou: “Tudo é tão simples que
cabe num cartão postal”. Cazuza.
Cartão
postal. Quem lembra? Perdeu a função, simples demais. O difícil é simples. O
simples tornou-se difícil.
Vou
parar por aqui. Baixei a música Gente Humilde, de Chico Buarque. Agora quero ouvi-la
interpretada por Luiz Melodia.
Tem
certos dias
Em que
eu penso em minha gente!”
Porto Alegre, 07 de abril de 2020.
JORGE
LUIZ BLEDOW – E-mail bledow@cpovo.net
Pois é, cartão postal: talvez a sua importância, na época, se devesse à sua simplicidade!
ResponderExcluirPerdeu sua função para uma funcionalidade mais simples: hoje bastam dois cliques – um para capturar a imagem e o segundo para a enviar. Instantaneamente. Tanto o envio, quanto a recepção. O destinatário recebe “na hora” – feito caldo de cana, com diria um bom nordestino.
Mais instantânea que a Polaroid, nos seus “bons tempos”.
A essência na simplicidade. Em Mateus, 18:13, lê-se: “... se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.” Qualquer que seja a interpretação que se dê ao “reino dos céus”, o acesso a ele está em sermos simples como a criança.