quinta-feira, 19 de julho de 2018

ALBERTO BLEDOW


            Hoje faz um ano que meu pai faleceu no Hospital de Caridade. Foi na virada do domingo para segunda-feira, bem na meia-noite fria e enluarada de Três Passos.

            Sinto uma imensa saudade, e não poderia ser diferente, dos tempos em eu ainda era criança e apesar de não termos muito, não nos faltava nada. Depois veio a adolescência e juventude, onde muita coisa não entendemos, porém achamos que devemos sempre contestar. E eu coloquei meu pai em cheque muitas vezes.

            Mudei para longe, fui pro quartel, primeiro pro Alegrete e depois à Porto Alegre, só voltava de visita rápida, duas a três vezes ao ano, no máximo. A perspectiva mudou e passei a ter a minha história de vida, com meus sonhos, percalços e sucessos. Sei que minha mãe rezava muito e meu pai torcia demais por mim. Me conforta em lembrar disso agora.

           Sei que meu pai está bem em outra dimensão tomando um cafezinho que a vó Paulinha  prepara, enquanto o vô Guilherme dá corda no grande relógio de parede. Junto estão seus irmãos, meus tios, Martim, Fritoldo, Willi e a Olinda.

            Vejo meu pai tocando gaita no Jaz Gaúcho com os amigos irmãos Meyer. Andando à cavalo, o Tostado, de bicicleta Axxel. Muitas vezes joga uma canastrinha na copa ou no bolicho enquanto toma um traguinho com o Orlando, o Leopoldo, o Fridolino, o Marcus, o Miltner, o Rölh, o Henrique, o Valdemar e outros. Enquanto isso o Schlemer atende ao balcão, com a caneta atrás da orelha, embrulhando arroz no papel pardo com extrema habilidade.

            Noutra feita, vejo meu pai num aniversário, jogam cartas na sala, tomando uma “serrana”. Estão presentes o Neulhs, o Buss, o Herbert, o Afonso. Enquanto as mulheres jogam “bichinho” na cozinha preparando um café preto cujo cheiro se espalha na casa toda.

            Um grande abraço, meu pai!

Porto Alegre, 17 de julho de 2018.
Jorge Luiz Bledow
E-mail: bledow @cpovo.net

2 comentários:

  1. Lindo texto Bledow...lembrei também de meu velho Pai...
    Abraço

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  2. Por mais que amemos nossos pais é só quando se vão que realmente recebemos sua total importância. Penso como você, seguem suas vidas junto dos que amam. E o amor continua através das dimensões.Abraço.

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