terça-feira, 24 de março de 2020

PRENDE O VELHINHO




Noutro dia resolvi subir o morro na minha caminhada diária, nesses tempos de quarentena, esperando o coronavírus. Espero que eu não. Toc-toc-toc!  Bato na madeira.

Em vez de descer a lomba, subo. Sofro na ida, mas na volta venho na banguela. Nessas minhas caminhadas escolho locais com pouco movimento. Encontro poucas pessoas e as que vejo estão a mais de 5 metros de mim. Tenho quase 62 anos e tenho que me cuidar do vírus.

Temos a opção de caminhar no próprio condomínio. Descer o mato. Subir o mato. Fazendo isso umas duas ou três vezes dá para suar. A trilha é estreita e quando passamos um pelo outro nos esgueiramos pelo lado, para não ficar a menos de um metro e meio do vizinho, e não trocar fluídos que podem infectar. Cuidar também para não segurar e apoiar nos mesmos galhos e árvores, quando se desce as escadas de pedra, onde todos tocam, e podem deixar resquícios.

Ficar em casa de repouso tem-se a tendência de comer muito e não se exercitar. Portanto, fechar a boca e fazer exercícios é para o bem da saúde de todos. Sem contato, sempre longe uns dos outros. Chegando em casa trocar os calçados e lavar as roupas. É uma neura!

 Aproveitei também e capinei, ou carpi, o pátio. Tenho que lhes dizer que fui colono, me achava um grande especialista em manejar a enxada. Mas aviso: o olho da enxada tem que ser oval. O olho, é aquele local em que se coloca o cabo. Enxada sem cabo, é brabo né! Isso de cabo redondo não funciona bem. Fica girando na mão, não se tem força além de fazer calo. Aqui na cidade só vejo enxadas com cabo redondo. Talvez seja mais fácil fabricar na máquina. Eu, como sou da roça, tenho uma enxada de ferreiro. Feito a martelo e bigorna, com olho oval. Legítima!

Isso de ficar confinado, com o tempo o vírus vai nos assuntando cada vez mais. Resolvi não mais sair a rua. Mas hoje me deu uma vontade de ir até a esquina e espiar o movimento. Me esgueirei pelo portão e fui me arrastando pela calçada. Cuidei para não cruzar com ninguém. Eu parecia um fugitivo. Um cachorrinho que foge. A rua virou local proibido. Que coisa!

De repente eu vejo uma viatura da polícia dobrando a esquina. Fiquei meio tremelico, confesso. Não estava preparado para isso. E se me prendem, pensei. Estava sem documentos, sem nada. Tenho mais de 60 anos. O prefeito assinou um decreto proibindo idosos de andar na rua sem necessidades. Sem dinheiro como é que ia atochar que estava indo na farmácia ou no mercado, que não era o caso. A vacinação começa depois de amanhã. Sem desculpas.

Aliás, tudo isso está estranho. Querem prender os velhinhos para não pegar o vírus, mas, ouvi dizer que vão soltar os presos condenados para não pegar o vírus?

Vá entender uma maluquice dessas! Eu heim!

            Porto Alegre, 23 de março de 2020.
JORGE LUIZ BLEDOW –  E-mail  bledow@cpovo.net

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. É isso mesmo: querem prender os velhinhos e soltar os presos, em ambos os casos para não se contaminarem.
    Jamais imaginei pque uma pandemia seria capaz de produzir tais medidas!!

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  3. Andar ou correr ao ar livre é um privilégio para poucos hj em dia, no meu caso, tenho q me adaptar ao condomínio de concreto, mas q nada, muita paciência e lendo boas crônicas como essa ajuda a manter a mente e o corpo dano, abraço meu amigo

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  4. Caminhar ou correr ao ar livre é um privilégio nos dias de hj meu amigo, aqui estou me adaptando as escadas, corredores e garagem, mas q nada, lendo belos textos ajuda a manter a mente e o corpo sanu. Abraço

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  5. Tentei duas vezes me identificar, não consegui....rsrsrs. Rogério Viera

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