Bem que pesquisei. Mas está difícil de achar uma
crônica que fala sobre entardecer, sobre lusco-fusco. Pelo tema achei que
poderia ser o nosso maior cronista de todos os tempos, Rubem Braga. Ele que
nasceu na terra de Roberto Carlos, Cachoeiro do Itapemirim, escreveu sobre
estas coisas. Sobre caçada de tatu, de quati, passarinhos, pé de milho e outros
assuntos cotidianos, que na sua voz escrita, se tornaram líricos.
Até achei uma crônica do grande Paulo Mendes Campos “Horas
antigas.” Fala sobre lusco-fusco,
lata de banha, o momento coagulado entre o dia e a noite, o perfume das
magnólias, o tilintar das louças, mas tenho certeza não é a crônica que
procuro. Talvez até alguém possa me ajudar.
Procuro um texto, que no ano de 1974, a professora
Pinto leu em sala de aula para nós. Estávamos na 8ª série do noturno, no Ensino
Fundamental, Colégio Rio Branco do CNC, em Padre Gonzales, município de Três
Passos. A professora lecionava português e artes, sendo assim aproveitou e leu
a crônica para nós, de tal forma, que a tarefa era desenhar a leitura.
Falava do entardecer, do sol se pondo por trás dos
morros, dos lagos e banhados, dos sapos fazendo a marcação e das rãs estridentes,
juntos ensaiavam a sinfonia que estava por iniciar. Além da gramática, havíamos
estudado as cores primárias, secundárias e assim por diante. Azul com amarelo
resultava a cor verde. Preto com amarelo, um verde desmaiado, com pouca luz, ou
seja: o lusco-fusco da crônica.
Pois no meu caso, prestei muita atenção em tudo, me
inspirei e fiz um desenho sofrível. Talvez fosse mais fácil escrever do que
pintar. Em primeiro plano um sapo sobre a pedra. Mais atrás o capim, as árvores
e às nuvens ao entardecer e o sol mergulhando no horizonte.
Não sei se fui bem, mas, acredito que tirei nota suficiente
para passar. Olhando agora o meu lusco-fusco em retrospectiva, 45 anos depois,
vejo que não resisti e acrescentei as cores amarela e vermelha nas flores dos
aguapés, ou seja, nada a ver com o momento, as tonalidades deveriam estar foscas,
apagadas. Sem contar o lago e as nuvens azuis, que entraram no meu quadro
pintado a guache, assim como Pilatos entrou no Credo.
Noutra feita, a professora Pinto colocou a rodar, acho
que no toca fitas, a valsa Danúbio Azul de Strauss. Novamente a nossa tarefa
era pintar ou desenhar alguma coisa. Fiz um desenho convencional, montanhas com
neve e o rio azul correndo. Ainda bem que não coloquei praia tropical, palmeiras
e barquinhos coloridos a navegar. Essa minha obra de arte por muito tempo me
acompanhou nas mudanças que fiz, até que um dia foi descartada. Uma pena. O lusco-fusco
tenho comigo, pendurado no sótão, emoldurado graças a minha esposa que tomou
esse cuidado.
Naquele tempo, da turma da 8ª série, eu sonhava com algo
diferente e brilhante para longe do lusco-fusco, imaginando um futuro de esperanças.
Agora a situação está invertida, os anos vividos me aproximam do lusco-fusco.
Muitas recordações e em vez de ouvir e pintar, olho o desenho e escrevo lembranças.
Porto Alegre, 20 de
junho de 2019.
JORGE LUIZ BLEDOW
E-mail bledow@cpovo.net
JORGE LUIZ BLEDOW
E-mail bledow@cpovo.net
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