Histórias
de baratas todo mundo tem para contar. Neste verão, especialmente quente, às nojentas
estão saindo do armário e dando a cara à tapa. Dia desses após, eu e meu filho
mais novo, assistirmos um jogo da seleção de futebol sub-23, sem graça, jogando
mal contra a Colômbia, já dávamos a noite como encerrada e nos preparávamos
para dormir, foi quando um baratão ousado, subiu pela parede andando em direção
a cozinha.
Meu
filho pegou o chinelo, melhor arma para este caso, e saiu no encalço. O bicho
parecia descer para pia, onde poderia ser alcançado num golpe preciso e mortal.
Não é que a espertalhona intrusa, parece que percebeu a intenção do chinelo alçado
e voltou protegendo-se no alto junto ao rebaixo de gesso. Ah, lancei mão de uma
vassoura e, com as piaçavas modernas de plástico, contive-a contra o degrau. Eu
do lado de fora e do outro lado do balcão, na cozinha, meu filho com o chinelo pronto
para abater a odiada intrusa.
-
Te prepara aí, gritei. – Vou varrer e jogar no tapete.
Eu
falava assim mesmo, meio gramatical rebuscado, vai que um ser desses entende o
português chulo, já prevendo a morte da bicha, e antevendo nosso heroísmo telúrico
destruindo e eliminando mais um exemplar do animal, que segundo certas
publicações científicas, talvez nem tão abalizadas, sobreviveria a uma hecatombe
nuclear (consegui escrever esta palavra horrível: hecatombe).
Pois
bem. – Prepara-te aí!
Manejei
a vassoura, e olha que nisso eu sou bom e tenho muito treino, e a barata não
caiu no meio da cozinha. Em plena queda ela alçou voo e sumiu do meu radar
parecendo um avião japonês “zero”. - Puxa vida. Tudo planejadinho, e mesmo
assim, deu errado!
Meu
filho veio correndo e gritando, caçada de barata sempre tem gritinhos, - está
ali, olha!
Foi
quando senti as antenas coçando meu tornozelo. Não é que a corajosa subia pela
minha canela tantas vezes agredida no futebol, ou seja, canela calejada e
tosca, que no entanto, às carícias da barata provocava riso. Devo ter, com
certeza, soltado algum grito másculo, diga-se de passagem, para não deixar dúvidas.
Nisso
a minha mulher ouvindo os ruídos do combate aéreo e terrestre, apareceu na
sala, e, com isso aumentaram em potência os sinais sonoros do confronto. Com a
vassoura ainda em punho, varri a barata para o tapete, sobre o qual estava eu
estacionado, e coloquei meu pé, devidamente calçado com havaianas, sobre ela,
meio de suave para não a esmagar. Falei para meu filho: - Eu tiro o pé e tu bate
nela.
Assim
que levantei meu pisante notamos que ela estava muito viva pois imediatamente
tentou fugir. Minha esposa torcendo, só faltava a charanga para completar a
algazarra, e meu filho, treinado, corajoso, num golpe certeiro de chinelo, sem
chances, esborrachou a bandida no piso!
E
nada mais tendo a declarar, apenas certifico, que de fato se deu a morte
morrida dessa barata kamikaze!
Porto Alegre, 07 de fevereiro de 2020.
JORGE
LUIZ BLEDOW – E-mail bledow@cpovo.net
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