Preparo
o mate, pego o jornal. Vou à sacada curtir essa manhã de sábado ensolarada.
Oficialmente ainda estamos no inverno, mas, a natureza dá sinais de primavera. Instalado
confortavelmente na cadeira de balanço, detenho-me à leitura. O lugar é calmo,
a paisagem é linda e larga. Vejo a mata, nos fundos a cidade, que por estas bandas,
infelizmente, planta novos conjuntos habitacionais substituindo parte do verde
no bairro. Mais ao fundo, bem longe, o Guaíba.
- Ambiente melhor que esse para
leitura e concentração não há, penso.
Mas que nada, logo esqueço o jornal, sorvo aos poucos
o chimarrão e me concentro no que vejo na natureza a minha volta. Ali está a
laranjeira cheia de flores brancas e estames amarelos, cortejada por abelhas e
esparramando perfume ao vento. Logo atrás, perto da cerca, o pé de figo que já
me inspirou d’outra vez.
Depois
a cerca, o mato e na borda flores lindas. As mimosas vermelhas vivas, entre
verdes escuros das folhagens, fazendo o contraste, viçam, eu diria assim, - entre
exibidas e tímidas, extravasando frescor. Como às flores se abrem exuberantes,
concluo que vem chuva logo-logo, talvez amanhã, segundo a sabedoria popular
ensina.
Um pouco ao lado, perto da cerca, no quintal, dois
ariticunzeiros bem grandes, estes, digo de boca cheia e bato no peito - eu
plantei! logo que adquirimos o terreno.
– Como estão grandes! São mais que árvores nativas, são símbolos do potreiro da
minha terra. Observando bem, entre os ramos, vejo uma diminuta frutinha silvestre.
Um pequeno ariticum amadurecendo, amarelo na casca, com nervuras verde-claras.
No ponto para ser saboreado.
Isso me transporta para a infância e
faz reviver a colheita desses frutos. Era uma cerimônia. Colhíamos ariticuns em
grupo. Era proibido comer enquanto se catava. Depois todos esvaziavam os bolsos
e depositavam os frutos na grama, misturando-os. Sorteava-se a ordem de quem
seria o primeiro, o segundo e o último a escolher. Passava-se a cerimônia. Do
primeiro ao último. Do último ao primeiro. Vez em quanto alguém reclamava ou
então regateava entre escolher dois frutos pequenos no lugar de um maior. Se no
final não desse exata a distribuição, partia-se um ariticum, distribuindo os bagos
contadinhos e ninguém saia no prejuízo. Uma aula de solidariedade.
Voltando ao mate, a minha sacada,
olho para a trepadeira cacheada em flor, e, entre surpreso e comovido, o
cenário se completa. Não é que o passarinho amarelo está ali sorvendo o mel nas
pequenas tulipas das flores!
Não falta mais nada. Manhã perfeita!
Ola Jorge bonita e terna esta cronica abraços
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