sexta-feira, 6 de maio de 2011

Condições

- Você pode estudar, disse meu pai, mas com as seguintes condições:

- Primeira: Tu vai continuar tirando leite da Osquinha. Para na roça às cinco e meia da tarde, tira o leite e depois te prepara para ir à aula. De manhã eu te chamo às sete horas para a ordenha.

- Segunda: Nada de nota vermelha. Se houver - chega de colégio. Eu não quero passar essa vergonha com meus filhos.

Minha mãe, que estava próxima, e até então apenas ouvia, acrescentou – E nada de bolão e “esnuque”. Não quero filho perdido no jogo.

Nessas alturas eu nem falava. Era pegar ou largar. Não podia dar um píu, só tinha que concordar. Quieto! As exigências até que eram razoáveis. Nem havia pensado nisso. Agora, porém, mamãe havia me alertado de uma coisa sem querer. Eu já sabia que tão cedo não me livraria da vaca Osquinha. Nota ruim eu não ia tirar, a não ser que algum professor aplicasse uma prova sem ter dado o conteúdo. Isso era questão só de estudar. Quanto ao bolão tudo bem. Jamais me passou pela cabeça jogar bolão por cerveja, que era o grande medo de minha mãe. Mas uma sinuquinha?

Me deu um “cutuco”. Sinceramente eu fiquei na dúvida. Não que eu jogasse, pelo contrário, nunca havia jogado até então. Sempre via os outros jogarem e ficava com uma vontade louca de experimentar. Não tinha dinheiro para comprar uma ficha sequer. Como seria tirar às bolinhas da gaveta, esparramar sobre o pano verde, apanhar um taco, fazer aquela cena toda, provocar algum amigo, passar o giz e finalmente sair encaçapando? Agora sim, talvez eu teria a chance real e sem que “os véio” soubessem. Bom! Melhor ficar quieto antes de alguém desconfiar. Poderia até economizar no lanche e deixar uns troquinhos para comprar “ficha”.

Enquanto matutava, tentando organizar os pensamentos, meu pai veio com uma observação:

- Você vai estudar na Vila. De noite! Falava pausadamente marcando as palavras. - Te digo uma coisa guri. Te cuida com as cadelinha!

- Ele sabe se defender, acudiu minha mãe.

Bem. Parece que por ora a ladainha acabara. Eu, em silêncio – quem cala consente - as condições foram colocadas, claras e concisas. Ou nem tão claras?

- O que meu pai queria dizer com cadelinhas?

- Ah claro. Entendi.

-Valeu a dica meu velho!

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