
A aldeia andava em polvorosa. Os ataques se sucediam quase que todas as madrugadas e ninguém tinha uma explicação para o que estava ocorrendo.
Dia sim, dia não, um monstro atacava o gado dos colonos. E sempre da mesma forma: altas horas da madrugada o estranho animal se atracava na vaca mais gorda, arrancando-lhe os quartos traseiros, carne de primeira.
Os jornais da região exploravam a notícia. Nas conversas nos bolichos, na roça, na igreja e até os padres na missa comentavam o assunto. Todo mundo preocupado e sem saber o que fazer. A paz deixara de existir no povoado.
Convocaram uma reunião, para a tardinha no salão de festas da capela. Saía gente pelo ladrão. Todos queriam relatar o que tinham ouvido e levantar hipóteses para identificar a assombração.
Uns achavam que era coisa do chupa-cabras. Outros defendiam a tese antiga do leãozinho baio que veio da Argentina cruzando o Uruguai a nado. Lobisomem, E.T. e até o doce-vampiro fugido da novela, eram citados como possíveis causadores dos estragos.
No final a maioria aceitou a tese de Romilda, normalmente quieta e encabulada, neste dia soltou o verbo:
Isso só pode ser um animal transgênico. Um bicho que só ataca outros bichos para os quais foi programado. Só vaca gorda, de madrugada, comendo somente o melhor pedaço de carne. Coisa produzida por multinacional americana. Vejam o que estão usando na Guerra do Iraque. Este bicho tem visão noturna igualzinho aos soldados. Foi criado em laboratório e só come vaca de pobre. A coisa é direcionada de tal forma, que nunca vai atacar nada dos latifúndios. É para infernizar pequenos agricultores igual a gente.
Para pegar o monstro, um tipo de robô, não adianta usar armas de fogo. Ele é protegido. Temos que usar defesas próprias, não convencionais para atrair o bicho e matar.
Aldino, marido da Romilda, que era de falar pouco, mas gostava de um trago, ouviu calado num canto e quando ela acabou o discurso, ele entrou de sola:
- Eu tenho um plano. Este animal não conhece samba com cachaça e fanta. Também não conhece o jogo de bochas.
Alguns tentaram interromper o bebum, mas o líder garantiu-lhe a palavra.
- De samba e bocha eu entendo.
Nisso todos concordaram. A Romilda estava meio desconfiada, não entendendo onde é que o marido queria chegar. Talvez fosse mais uma desculpa para encher a cara. Mas ele parecia sóbrio e falava com tal convicção que deixou continuar.
É o seguinte: vou amarrar a vaca hosquinha no canto da cancha. Preparo uma caneca bem reforçada e me deito escondido atrás da tabela, ao lado das bochas. Quando o bicho aparecer dou-lhe uma bochada só, no meio da testa.
Todos concordaram. O plano era simples e tinha tudo para funcionar. Romilda, desconfiada a princípio, rendeu-se aos apelos da comunidade e concordou com a estratégia do marido.
O plano foi posto em ação imediatamente. Providenciaram estoque para o samba do Aldino, que ficou firme no posto fazendo aquilo que mais lhe apetecia.
Encheu o pandulho de trago. Já era madrugada e nada do bicho aparecer. – Não vai ser hoje, pensou e caiu no sono.
Já quase clareando o dia, acordou de susto com a barulheira. - É o bicho, gritou procurando às bochas. Já era tarde, o animal pulou em cima dele fazendo um gritedo desgranido.
- Acorda Aldino! Você encheu a cara e dormiu no ponto, gritava Romilda.
- Que é isso. Me larga mué!
- Cadê a vaca, Aldino?
Deram uma espiada no gramado, atrás da tabela, onde a metade dianteira da hosquinha dormia tranqüilamente.
Dia sim, dia não, um monstro atacava o gado dos colonos. E sempre da mesma forma: altas horas da madrugada o estranho animal se atracava na vaca mais gorda, arrancando-lhe os quartos traseiros, carne de primeira.
Os jornais da região exploravam a notícia. Nas conversas nos bolichos, na roça, na igreja e até os padres na missa comentavam o assunto. Todo mundo preocupado e sem saber o que fazer. A paz deixara de existir no povoado.
Convocaram uma reunião, para a tardinha no salão de festas da capela. Saía gente pelo ladrão. Todos queriam relatar o que tinham ouvido e levantar hipóteses para identificar a assombração.
Uns achavam que era coisa do chupa-cabras. Outros defendiam a tese antiga do leãozinho baio que veio da Argentina cruzando o Uruguai a nado. Lobisomem, E.T. e até o doce-vampiro fugido da novela, eram citados como possíveis causadores dos estragos.
No final a maioria aceitou a tese de Romilda, normalmente quieta e encabulada, neste dia soltou o verbo:
Isso só pode ser um animal transgênico. Um bicho que só ataca outros bichos para os quais foi programado. Só vaca gorda, de madrugada, comendo somente o melhor pedaço de carne. Coisa produzida por multinacional americana. Vejam o que estão usando na Guerra do Iraque. Este bicho tem visão noturna igualzinho aos soldados. Foi criado em laboratório e só come vaca de pobre. A coisa é direcionada de tal forma, que nunca vai atacar nada dos latifúndios. É para infernizar pequenos agricultores igual a gente.
Para pegar o monstro, um tipo de robô, não adianta usar armas de fogo. Ele é protegido. Temos que usar defesas próprias, não convencionais para atrair o bicho e matar.
Aldino, marido da Romilda, que era de falar pouco, mas gostava de um trago, ouviu calado num canto e quando ela acabou o discurso, ele entrou de sola:
- Eu tenho um plano. Este animal não conhece samba com cachaça e fanta. Também não conhece o jogo de bochas.
Alguns tentaram interromper o bebum, mas o líder garantiu-lhe a palavra.
- De samba e bocha eu entendo.
Nisso todos concordaram. A Romilda estava meio desconfiada, não entendendo onde é que o marido queria chegar. Talvez fosse mais uma desculpa para encher a cara. Mas ele parecia sóbrio e falava com tal convicção que deixou continuar.
É o seguinte: vou amarrar a vaca hosquinha no canto da cancha. Preparo uma caneca bem reforçada e me deito escondido atrás da tabela, ao lado das bochas. Quando o bicho aparecer dou-lhe uma bochada só, no meio da testa.
Todos concordaram. O plano era simples e tinha tudo para funcionar. Romilda, desconfiada a princípio, rendeu-se aos apelos da comunidade e concordou com a estratégia do marido.
O plano foi posto em ação imediatamente. Providenciaram estoque para o samba do Aldino, que ficou firme no posto fazendo aquilo que mais lhe apetecia.
Encheu o pandulho de trago. Já era madrugada e nada do bicho aparecer. – Não vai ser hoje, pensou e caiu no sono.
Já quase clareando o dia, acordou de susto com a barulheira. - É o bicho, gritou procurando às bochas. Já era tarde, o animal pulou em cima dele fazendo um gritedo desgranido.
- Acorda Aldino! Você encheu a cara e dormiu no ponto, gritava Romilda.
- Que é isso. Me larga mué!
- Cadê a vaca, Aldino?
Deram uma espiada no gramado, atrás da tabela, onde a metade dianteira da hosquinha dormia tranqüilamente.
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