Adoniran Barbosa escreveu em 1951:
“Se o senhor não tá lembrado, dá licença de contar, Ali onde agora está este adifício arto. Era uma casa véia, um palacete assobradado, Foi aqui seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joça, Construimo nossa maloca”
A cidade de São Paulo crescia, se expandia levando tudo por diante. Novas ruas, Viadutos, bairros, prédios, surgiam da noite para o dia. Tudo avançava freneticamente, transformando a então, ainda provinciana cidade, em grande metrópole.
“Mais um dia, nóis nem pode se alembrá. Veio os home com as ferramenta e o dono mandô derruba. Peguemos todas nossas coisas e fumos pro meio da rua. Apreciá a demolição. Que tristeza que nóis sentia, cada táuba que caía. Doía no coração”
O progresso não chegara naquele momento, mas se tornara impetuoso como nunca. Imigrantes, fábricas, empregos, investimentos. Favelas eram derrubadas, os moradores mais humildes eram expulsos dos bairros centrais e tinham que se encaixar na periferia. O pobre pega seus poucos pertences e se manda, mas não perde a alegria. Faz piada da própria condição, e canta para esquecer:
“Matogrosso quis gritar, mas por cima eu falei. Os home tá co’a razão, nóis arranja outro lugar. Só se conformemo quando o Joca falou. Deus dá o frio conforme o cobertor. E hoje nóis pega as paia nas grama do jardim”
O sistema capitalista é assim. Quem tem mais chora menos. O dinheiro manda e transforma. Agora, depois de anos “patinando represada”, a economia brasileira voltou a crescer. – Há dinheiro, dizem os investidores. E a nossa capital Porto Alegre cresce. São novas avenidas, viadutos, loteamentos, prédios, e condomínios, hipermercados e shoppings.
Não somos a São Paulo de 1951, os tempos mudaram, eletrônicos, celulares, violência, penta campeões de futebol, mensalões, golpe-revolução, abertura democrática, inflação, o homem foi (e voltou) à Lua. Internet e o “scampau”. Mas se andarmos na nossa portinho e prestarmos atenção muita coisa está acontecendo e outras tantas deixando de existir.-Sonho Acabou!”, diz um amigo meu, repetindo outro que aconteceu neste interregno.
“E pra esquecer nóis cantemos assim: Saudosa maloca, maloca querida. Dim dim donde nóis passemo os dias feliz da nossa vida”
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