No alto da montanha, pertinho do céu, vivia um grupo de pedras bem grandes. Matacões, rochas, que pela energia de algum vulcão ali foram depositadas. E elas observavam os pássaros voarem, sentiam o vento, a chuva e conversavam entre si.
- Eu tenho um sonho, dizia uma. Ainda quero conhecer o mar.
- Eu quero aprender a voar, dizia a vizinha.
- Sonho impossível o seu. Imagine uma pedra voar.
- E você sua boba. Imagine pedra nadar. Pois vais ter que nadar para chegar até o mar.
- Se for preciso eu aprendo nadar. Ainda vou conhecer o mar.
O tempo foi passando. A pedra, sem pressa, no alto fazia planos.
Certo dia a chuva foi muito forte e deu uma enxurrada grande. A pedra, que sonhava com o mar, jogou-se na correnteza e desajeitadamente saiu rolando montanha abaixo. Batendo em outras pedras foi tirando lascas e deixando pedaços. Sentiu então na pele que o caminho até o mar não seria fácil. Não aprendia nadar de jeito nenhum, além disso, tinha que lutar e se atirar contra outras rochas para abrir espaço e seguir adiante. A cada parada avaliava e concluía que já não era a mesma pedra. Ia ficando aos pedaços na descida. E o pior: não tinha como voltar.
Vieram outras enxurradas, avanços, sustos e sofrimentos, concluiu que virara seixo que rola. O avanço tornara-se mais fácil, porém as dificuldades continuavam. Nadar? Nem pensar, vivia rolando e batendo em outros seixos no fundo do rio, ora à margem direita, ora à outra. Quando imaginava que já não diminuiria, levava outro safanão e o desgaste continuava. Ficava cada vez menor e roliço. Ainda não chegara ao mar e estava longe da montanha e com saudades. Voltar não dava. O jeito era seguir adiante e quem sabe um dia chegar ao mar.
Entre enchentes e solavancos, virou grão de areia e um dia sentiu a água salgada.
Cheguei ao Mar! E até já sei nadar.
Brincava no mar, nadava, mal, mas nadava, afinal realizara seu sonho. Perguntava-se : - ainda tenho alguma coisa daquela rocha do alto da montanha?
E entre milhões de outros grãos de areia tomava banho, mergulhava, conversava, e se divertia nas ondas. Encontrou mãe d’água, tubarão, peixinhos, lagosta, estrela do mar ...
Um dia nadou até a praia. A maré baixou, o sol saiu e o grão de areia ficou admirando o céu, as gaivotas, as montanhas ao longe e pensou:
Tenho um sonho. Quero aprender a voar igual aos pássaros e voltar às montanhas de onde vim. Tenho saudades de lá e preciso contar, a quem ficou, a minha aventura.
Conheci o mar, aprendi a nadar. Coisas que pareciam impossíveis para mim. Por quê não poderei voar? Está certo, mudei muito. Estou leve, mas ainda tenho sonhos.
Esqueceu-se na praia. Veio o sol forte e a areia secou. Soprou o vento e quando o grão de areia se apercebeu estava voando de duna em duna.
Já sei voar, já sei voar, gritava entusiasmado.
- Posso voltar para a montanha de onde vim, esse é meu sonho!
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