sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pérolas retratadas


No interior o fotógrafo era um personagem importante.

Vinha quando chamado para retratar algo diferente. Casamentos, crismas, torneios de futebol, bailes de sociedades e outros encontros sociais. Também era chamado para fotografar coisas mais pessoais ou familiares. Uma bonita junta de bois, um cachaço com mais de 500 quilos, a família reunida, as crianças.

Estes momentos eram importantes e ficavam gravados nas memórias das pessoas. Além da fotografia, onde a imagem fixava-se no papel, os envolvimentos, assim dizendo, passavam a integrar a história familiar.

Anos depois ainda se comenta – lembra daquele dia em tiramos àquele retrato? Quer dizer, são datas que ficarão marcadas para sempre. E como!

Lembro-me bem. Era domingo, eu e meu irmão saímos cedo para jogar futebol. O fotógrafo estava apalavrado. Qualquer dia apareceria. De preferência num domingo. Agora olhando a foto, me arrependo de não ter ficado em casa naquela data tão importante. É sempre assim.

A velha fotografia em minhas mãos conta a história pela metade. Mostra as presenças. Não mostra ausências. Porém eu e meu irmão, já que retratos naquele tempo eram raros, sempre lamentaremos não estarmos “presentes”. Saímos e não saímos na foto.

Contou-me, um amigo, que revendo fotos resolveu classificá-las por ordem cronológica. Achou uma de sua mãe, com sua tia. As duas irmãs apareciam moças e bonitas. No verso da foto, escrito com caligrafia bem feita à pena, lê-se:

- O dia em que tirei foto com a minha irmã.

Como é bom rever álbuns e baús. Os retratos de outros tempos trazem à tona lembranças doces e histórias diversas.

E algumas pérolas retratadas.

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