sexta-feira, 7 de maio de 2010

O baterista


De vez em quando ouço uma pessoa dizer – eu faço tal coisa porque eu gosto e me acalma.

Fico pensando nisso. Nestas coisas que a gente fazer com prazer e que acalmam a gente. Noutro dia ouvi um radialista falando sobre poesia, que isso era muito bom principalmente porque acalma os ânimos. Fiquei pensando se é isso mesmo, acho que é bem mais profundo, mas de certa forma, talvez ele tenha razão. Como seria chata a vida sem poesia. Aliás, procuramos o lado poético nestas coisas que se faz, em geral, por hobby.

“O futebol e o carnaval, são o ópio do povo!” Quem já não ouviu esta frase? E quem já não pensou ou discutiu sobre a profundidade desta filosofia popular. Será cultura inútil? Conversa de mesa de bar?

Não sou eu quem vai dizer, que é sem valia ou assunto de maior valor. O que eu sei é que é muito bom jogar conversa fora numa mesa de bar, numa noite de sexta-feira, no verão. Nem todos concordarão comigo, mas garanto que os discordantes são minoria. Ainda bem!

A literatura, a música, o teatro, o cinema, as artes plásticas, a filosofia, os esportes em geral, e muito mais, é feito com prazer por pessoas da área. Há indivíduos que produzem, e outros que apreciam. Como se faz com tesão e se aprecia, isso nos acalma, ou melhor, nos absorve.

A religião também produz efeitos notáveis nos seus praticantes. Depende se é exercida com mais ou menos fervor. Mais ou menos fé. Mas não é só isso, uma crença, uma filosofia, produzem efeitos muito mais profundos em nós todos. Algumas mudanças e posturas podem ser avaliadas facilmente, outras são mais sutis, e se fazem sentir a longo prazo.

Todos nós vivemos a procura de coisas para fazer, que nós dêem prazer. Que nós acalmem. Tenho um amigo que é baterista e quando ele me convidou para assistir a um show, fiquei curioso. Pensei comigo – isso que eu tenho que tocar para me acalmar, para gastar energia.

Olha o show foi muito bom, músicas de qualidade, bem escolhidas. Só Milton Nascimento instrumental. No entanto eu me frustrei um pouco com meu amigo baterista. Ele toca bem, mas não sai gastando energia batendo forte, furando o couro dos instrumentos com raiva. Ele toca suavemente, com técnica, matematicamente e disciplinadamente, como requer a boa à música.

Após o show contei essa minha opinião ao músico, e ele me falou – mas é isso mesmo que me acalma!

Outro amigo meu, artista plástico, ante a minha observação, de que eu não teria paciência para desenhar, falou. – Não sei se pinto porque sou calmo, ou se pintar me acalma, acho que é a segunda opção.

Vejam só. A arte, ou as coisas prazerosas em geral, coisas que se faz em público ou em ambiente caseiro de privacidade total, nem sempre precisam ser enérgicas para nos acalmar. Podem ser doces, suaves, cheias de poesia, no embalo da rede, numa noite de verão, sentindo a brisa do mar. E mais: deixe a imaginação fluir...

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