sexta-feira, 7 de maio de 2010

Meu tesouro


Eu já tive uma valiosa coleção de arte. Dei-me conta agora. No passado, quando estavam em minhas mãos, não valorizei.

Eram esculturas variadas. Peças clássicas, cubistas, impressionistas, e até modernistas. Coisas fantásticas. Diferentes figuras reunidas ao longo de muitos anos de trabalho, pesquisa e garimpo.

Eu poderia - na época não desconfiava - me declarar um colecionador de obras raras. Únicas. Sem cópias ou reproduções.

Por acaso pararam em minhas mãos e durante algum tempo foram minhas.

Depois... Bem! Depois desapareceram sem deixar vestígios. Ou quem sabe eu é quem me afastei sem aviso prévio.

Isso tudo começou na adolescência e adentrou a mocidade. Veio a idade adulta e com ela as inevitáveis separações. Deixei minhas esculturas sem a dor da despedida. Simplesmente não houve despedida.

Saí pelo mundo evitando sentimentos telúricos. Elas ficaram. Sofreram? Quem sabe?

Eventualmente vejo alguma que poderia ter feito parte da minha valiosa coleção. Sinto uma grande perda. Quantas coisas se extraviam no decorrer da vida e só mais tarde se percebe. E muitas vezes nem damos falta...

As peças do meu patrimônio eram raízes retorcidas, nós, cipós e madeiras entrelaçadas. Eu as catava e guardava. Lembrava da história de cada uma. Local do encontro e primeira impressão. Coisas irracionais e primitivas. Sentimentalismos inexplicáveis.

A coleção podia não ter liquidez. Nenhum valor comercial ou financeiro. Agora percebo, tinha (e tem) um valor sentimental.

Preciso logo recomeçar a minha coleção. Nas próximas saídas estarei atento.

Vejo o quanto representam para mim esses "badulaques" e "quinquilharias". Cada achado é uma viagem. Um retorno à infância e adolescência.

Não há nada mais valioso do que boas lembranças.

Estas coisas são o meu maior tesouro.

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