sexta-feira, 7 de maio de 2010

Fruta símbolo


Ninguém me pediu. Muito menos ela. E antes que alguém o faça, saio em sua defesa.

Para não criar suspense, desembucho logo dizendo a que me refiro: a bergamota.

Sim, a velha conhecida bergamota. Não se preocupem que ela não cometeu nenhum crime. Trata-se de uma indicação honrosa.

O nosso Estado tem alguns símbolos instituídos. Alguns oficiais. Outros cultuados pelo povo ou outorgados por entidades diversas.

Há poucos anos, me parece que por iniciativa do MTG, elegeu-se o brinco-de-princesa como a flor representativa do Estado. Os portalegrenses escolheram a estátua do laçador como símbolo da cidade. Em segundo lugar ficou o por do sol do Guaíba.

A erva-mate é a árvore mais significativa do nosso Rio Grande do Sul.

Por que não escolher também uma fruta?

Surgem várias candidatas no campo e na cidade.

Uma das primeiras lembradas é a banana. Fruta muito consumida em todo território nacional. Mas a sua lembrança nos remete à República das Bananas. Desagradável essa associação. Portanto, opção descartada.

A laranja até que poderia ser e está cotada no páreo. Muito difundida em todo país. Mas tem um senão, a simples menção da palavra "laranja" lembra escândalos nacionais, de volta em “Não Vale a Pena Ver de Novo”, causando uma péssima impressão. Está fora para evitar constrangimentos políticos.

Que me desculpem o abacaxi, o pêssego, a maça, a goiaba, a melancia, todas merecem admiração, mas não tem a mesma penetração popular da bergamota.

A pitanga, o guabiju, a cereja, a guabirova, o araticum, o araçá, a amora, o butiá, merecem atenção, mas são frutas do campo e pouco conhecidas no meio urbano.

Temos uma candidata forte: a uva. Conhecida em todo o Estado, mas talvez não tenha representatividade suficiente por ser cultivada predominantemente na região serrana. Acho a uva uma fruta muito esnobe, o que contrasta com a simplicidade do povo gaúcho. Além disso, o fato de dar em cachos pode levar a uma associação maliciosa. Por tudo isso melhor evitá-la.

Sendo assim, sobra-nos a cheirosa bergamota. Conhecida como tangerina ou mexerica nos outros estados e que, só aqui, tem essa denominação tão particular.

A autêntica bergamota nasce guaxa, em qualquer lugar. Na colônia, na campanha, na serra, no litoral e na cidade. É por demais conhecida. Duvido de alguém desta terra, que já não tenha provado esta saborosa "fruita".

Faço-me aqui defensor, e, como rábula voluntário, saio em sua defesa. A bergamota é uma fruta ainda pura, popular, e, neste outono, já está na rua. Ainda não está ligada a escândalos políticos e não tem alto valor comercial.

Vendida em qualquer esquina. Típica do minifúndio não se prestando a monocultura e, pelo que eu sei, não está envolvida em pesquisas transgênicas. Portanto, é de uma fruta assim, sem pedigree formal, porém hospitaleira, meio enferrujada, sofrida, suculenta e adorada, que precisamos para nos representar.

Meu voto está aberto. Bergamota para fruta símbolo dos gaúchos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...