quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lançamento de livro

Um comentário:

  1. Fim de verão, início de outono e figos maduros. Várias figueiras, todas já meio sem folhas. Umas entre o forno de fazer pão e a casinha dos porcos – o chiqueiro (não sei por que, mas não gosto dessa palavra). Outras entre os butiazeiros, marmeleiros e ameixeiras. Tudo nos fundos da nossa humilde casinha de colono minifundiário. Disputávamos os figos maduros eu e os passarinhos. Quase sempre chegava tarde demais. De repente um figo maduro, enorme, bem no alto, lugar difícil de chegar. Ia de galho em galho, buscá-lo. Quando finalmente o alcançava, decepção: só casca. O figo? O passarinho já tinha comido. Isso era tão freqüente que jurava que eles faziam isso só por gozação comigo. Mas sempre sobrava um para mim, acho que no fundo eles – os passarinhos – gostavam de mim, acho que sabiam que eu, apesar da disputa pelos deliciosos figos, também gostava deles. Como eram gostosos (os figos, claro, pois os passarinhos me eram sagrados) ... Coçavam-me os braços e as pernas, de tantos arranhões pelos galhos. Ardiam os lábios, de tanta seiva ácida da casca do figo. Afinal, guri não tinha paciência para descascá-los com faca, pois só gente grande tinha tempo para isso. Mas tudo valia a pena. O figo era realmente muito gostoso. Que saudade ... No lugar daquelas figueiras, hoje só tabaco. Que pena ... Que tristeza ...

    Trinta e tantos anos depois, há alguns dias, vi num supermercado uma bandeja de figos maduros, lindos e apetitosos. Meio caros. Hesitei um pouco mas acabei comprando. Grande decepção: sua aparência havia me enganado. Aguados e sem sabor. Nada a ver com aqueles figos que eu compartilhava com os passarinhos no pomarzinho lá de casa, nos tempos de criança. A genética, os agrotóxicos, a transgenética e a ganância pela produtividade devem tê-los deixado tão sem gosto e sem graça.

    Mas afinal, qual a razão do ruminar desta tão remota memória? Toda ... É que um link num e-mail que recebi do nosso amigo Giglione me remeteu ao seu blog, Bledow. Lá, vi a capa de um livro chamado “Figos Maduros”. Pensei: - olha aí mais uma sugestão de leitura do Bledow. Como nunca deixo de ver o nome do autor, surpresa: o autor eras tu, Jorge Bledow. Aí a surpresa de mesclou com satisfação. Parabéns por mais um “filho”.

    Seria o maior prazer estar no lançamento do seu livro, de compartilhar com o amigo, e com os amigos do amigo, tão importante momento, mas acho que talvez não será possível. Tenho uma espinhosa tarefa de ajudar a cuidar da saúde de pessoa da família, fora de Porto Alegre. Mas farei o possível para estar lá.

    Amigo Bledow, segundo aquele ditado, que diz que “todo homem deve na vida pelos menos ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro”, cumpriste tua missão, “estás com teu boi na sombra”, pois: tens filho (ou filhos, não sei), certamente já plantaste muitas árvores e, agora, escreveste um livro (ou de repente este nem é o primeiro, também não sei). Mas de qualquer forma, parabéns.

    Tento imaginar qual metáfora te fez adotar esse nome para o seu livro. Será que há relação com os figos maduros da minha infância? Não responde. Quero descobrir lendo o livro, autografado, claro.

    Mas continua a me impressionar o abençoado encadeamento de certas coisas boas que às vezes se costura para a gente: encontrei figos maduros no supermercado, lembrei-me dos figos maduros da minha infância, recebo um e-mail que me leva até um blog, esse blog é de um amigo meu, lá chegando defronto-me com a imagem da capa de um livro chamado “Figos Maduros” e, finalmente, esse livro foi escrito por esse meu amigo. Quanta boa coincidência de fatos, todos na hora e lugar certos. Ganhei o dia ...

    Bledow, que o livro seja um sucesso e uma grande realização.

    Porto Alegre, 22 de Maio de 2010
    ( um lindo sábado de outono, de sol e de chuva )

    Um abraço.

    ILDO HELLWIG
    ihelwik@yahoo.com.br

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