A semana toda trabalhávamos com afinco. Tudo tinha que estar organizado, preparado, impecável. No domingo seria festejado o aniversário de papai. Os convidados, parentes e vizinhos, viriam para o almoço, outros à tarde. Não poderiam ocorrer falhas. Tínhamos que deixar boa impressão. Filhos educados, simpáticos, disponíveis, trabalhadores, saudáveis, limpos, entre outras qualidades, era tudo que nossos pais esperavam para que ficasse gravado na lembrança dos convidados. E haja trabalho para deixar tudo bonitinho. Qualquer má vontade nossa, os de casa, a lembrança: - Olha a festa!
Festa? Que festa? Éramos obrigados a ajudar em tudo durante a semana e no domingo, de banho tomado e cabelo penteado, esperar e cumprimentar educadamente os convidados. Carregar cadeiras, alcançar panelas, ajudar no fogo, dar uma última varrida no pátio, tudo conosco. Na hora do almoço era aquilo: - primeiro os adultos depois as crianças - éramos os últimos, isso quando não sobrava para nós comer de pé, recostados na pia, num pratinho de lata, com uma colherzinha torta. O pior era quando alguém nos chamava e dizia: - “ Mostra pro titio o que tu já sabes ler e dizer um versinho!” Extrema humilhação.
O mundo mudou e hoje nos aniversários que vou, até mesmo pelo que a nossa geração passou, as crianças, convidadas e de casa, são paparicadas e bem tratadas. Primeiro as crianças, depois os adultos, esta é a ordem. Ainda bem!
Cresci e saí para o mundo. Fui servir no quartel. Na formatura geral o comandante deixava bem claro: - Sexta-feira que vem, é o dia da nossa arma. Vai haver uma festa com formatura e demonstração de ordem unida da tropa. Quero ver tudo limpo e em ordem. Nenhuma bagana de cigarro no chão! Além disso os convidados precisam saber que a tropa está adestrada na Ordem Unida! Os cabos e soldados trabalhavam duro a semana toda. Meios-fios todos pintados. Grama cortada, lixo recolhido, banheiros desinfectados, escadas e corrimões brilhando, o piso um espelho. Fora tudo isso, havia ainda os treinamentos para Formatura Geral, sem contar os cuidados individuais: - corte de cabelos regulamentar, coturnos lustrados, farda engomada, fivela brilhando, postura militar, correção de detalhes! No dia cantávamos e desfilávamos (fazendo gracinhas), para os convidados. Isso mostrava que estávamos preparados. Preparados para o quê? Para guerra? E mais, eu já ia esquecendo, tudo terminava com um coquetel, só para autoridades e convidados!
Deixei de ser criança, passei pelo quartel e agora moro em Porto Alegre. Ouço propagandas e chamadas para a maratona da cidade. Sinto-me transportado para o aniversário do meu pai ou a formatura do quartel. Nós o cidadãos, moradores desta cidade, temos o dever de sermos educados, simpáticos, hospitaleiros para com os atletas convidados. A cidade deve deixar uma boa impressão nos forasteiros. A EPTC, A Brigada Militar, os Paramédicos, os Bombeiros e Voluntários, trabalham a semana toda e no domingo com dedicação. Ruas estarão trancadas, o trânsito estará complicado, justamente no dia em que no geral tem-se menos movimento. Os motoristas e pedestres vão enfrentar problemas para chegar a determinados locais e não importa o motivo, emergência, trabalho ou passeio com a família.
Eu já ia esquecendo: depois de tudo talvez haja um coquetel.
Para autoridades e convidados!
Festa? Que festa? Éramos obrigados a ajudar em tudo durante a semana e no domingo, de banho tomado e cabelo penteado, esperar e cumprimentar educadamente os convidados. Carregar cadeiras, alcançar panelas, ajudar no fogo, dar uma última varrida no pátio, tudo conosco. Na hora do almoço era aquilo: - primeiro os adultos depois as crianças - éramos os últimos, isso quando não sobrava para nós comer de pé, recostados na pia, num pratinho de lata, com uma colherzinha torta. O pior era quando alguém nos chamava e dizia: - “ Mostra pro titio o que tu já sabes ler e dizer um versinho!” Extrema humilhação.
O mundo mudou e hoje nos aniversários que vou, até mesmo pelo que a nossa geração passou, as crianças, convidadas e de casa, são paparicadas e bem tratadas. Primeiro as crianças, depois os adultos, esta é a ordem. Ainda bem!
Cresci e saí para o mundo. Fui servir no quartel. Na formatura geral o comandante deixava bem claro: - Sexta-feira que vem, é o dia da nossa arma. Vai haver uma festa com formatura e demonstração de ordem unida da tropa. Quero ver tudo limpo e em ordem. Nenhuma bagana de cigarro no chão! Além disso os convidados precisam saber que a tropa está adestrada na Ordem Unida! Os cabos e soldados trabalhavam duro a semana toda. Meios-fios todos pintados. Grama cortada, lixo recolhido, banheiros desinfectados, escadas e corrimões brilhando, o piso um espelho. Fora tudo isso, havia ainda os treinamentos para Formatura Geral, sem contar os cuidados individuais: - corte de cabelos regulamentar, coturnos lustrados, farda engomada, fivela brilhando, postura militar, correção de detalhes! No dia cantávamos e desfilávamos (fazendo gracinhas), para os convidados. Isso mostrava que estávamos preparados. Preparados para o quê? Para guerra? E mais, eu já ia esquecendo, tudo terminava com um coquetel, só para autoridades e convidados!
Deixei de ser criança, passei pelo quartel e agora moro em Porto Alegre. Ouço propagandas e chamadas para a maratona da cidade. Sinto-me transportado para o aniversário do meu pai ou a formatura do quartel. Nós o cidadãos, moradores desta cidade, temos o dever de sermos educados, simpáticos, hospitaleiros para com os atletas convidados. A cidade deve deixar uma boa impressão nos forasteiros. A EPTC, A Brigada Militar, os Paramédicos, os Bombeiros e Voluntários, trabalham a semana toda e no domingo com dedicação. Ruas estarão trancadas, o trânsito estará complicado, justamente no dia em que no geral tem-se menos movimento. Os motoristas e pedestres vão enfrentar problemas para chegar a determinados locais e não importa o motivo, emergência, trabalho ou passeio com a família.
Eu já ia esquecendo: depois de tudo talvez haja um coquetel.
Para autoridades e convidados!
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