sexta-feira, 7 de maio de 2010

Além da inspiração



Tenho a tendência de ser cético. A princípio não acredito em nada transcendente. Talvez eu possa ser definido como um agnóstico. Acho que não se chega a nada discutindo metafísica ou coisas assim, mas, que existe uma energia superior, que jamais tocaremos, nem a compreenderemos. Por quê perder tempo então com isso? De forma alguma, nesta vida terrena, saberemos algo sobre este assunto. Respeito os que tem Fé, pois ela é irracional, inexplicável, portanto que a tem, tem e pronto. Eu não tenho. E nem procuro me enganar a mim próprio. Sou honesto quando falo e acho melhor assim. Sair dizendo uma coisa sem firmeza, sem Fé, não faz meu tipo. Se bem que, as vezes, e nem tão poucas vezes, me contradigo. Agora mesmo eu disse que achava perda de tempo discutir essas coisas. Então, o que estou fazendo neste exato momento

Gosto de escrever e ler, principalmente autores consagrados. Algumas vezes noto que escrevo algo interessante e redondo. Outras noto que vai ser chato ler o que eu escrevi. Falei isso para dizer que escrevo nem tanto porque quero, mas muito mais porque preciso. Estranho? É que me vem um assunto na cachola e fica batendo no cérebro enquanto eu não ponho para fora o assunto. É isso que faço agora.

Como disse, sou cético. Mas tem uma coisa que tem povoado meus pensamentos. Tenho um amigo que faleceu num acidente de carro. Ele muito inteligente e organizado. Trabalhava com treinamentos. Era consultor de qualidade e dava palestras. O carisma dele era algo muito especial. Cativava as pessoas, era criativo, inteligente, simpático, organizado Morreu no auge. Muitas vezes travamos longas conversas. Ele era o cara que tirava água de pedra. Aquelas teorias estéreis da administração, coisa chata, ele adorava. Quando fazia uma palestra ou mesmo numa conversa a coisa clareava. Tudo ficava interessante e compreensível para todos.

Muitas vezes me elogiava e também me criticava, Dizia que eu era inteligente mas desorganizado e assim não chegaria a lugar nenhum. Era preferível que fosse menos inteligente porém mais organizado. Eu deveria acreditar mais em mim. Apostar mais. Sonhar mais alto. – Tens muito potencial, dizia, - uma pérola a lapidar. Tímido, desorganizado, nunca gostei de aparecer em público. Falar, escrever, me expor. E ele querendo que eu evoluísse este lado direito da cabeça.

Pois meu amigo se foi e desde então sonho com ele. Já vi ele conversando com meu avô, e os dois , aqui na terrinha, não se conheceram. Meu avô faleceu há uns 30 anos e meu amigo quase vinte anos depois. Sonho com eles, parece que os ouço, eles me guiam. Tenho quase certeza. A morte já não me assusta pois parece que um dia vou encontrá-los para um bom papo, com todo o tempo na eternidade.

Vejam, eu, cético, materialista assumido, sem Fé, descrente, me vejo nesta situação. Ultimamente tenho me exposto ao público. Escrevo e publico no blog. Fiz entrevista para jornal. Escrevo para colunas do leitor e de vez em quando publicam, e, agora, por fim, fiz algumas palestras de conteúdo técnico para auditórios entre 100 a 150 pessoas.

Acreditem, estou adorando falar em público. Me sinto confiante, não sinto timidez, olho para todos, cito nominalmente os que conheço, ou seja, sem mais sem menos me sinto bem falando ao microfone. Descobri que gosto de escrever, de falar, de me comunicar.

E enquanto falo sinto que meu amigo está me olhando. Mais, ele me incentiva, me cobra, me empurra para fazer as coisas que eu gosto, e que ele tanto gostava. Parece que o espírito dele paira no ar e se diverte, sempre risonho, fazendo piadinhas quando tropeço, me ajudando a sair das enrascadas.

É coisa para além da inspiração. Muito além! Tudo isso está acontecendo comigo! E não acredito em nada além do meu dia a dia.

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