Em contraposição, (ou será concordância?) à
crônica Um mundo que se abre, onde escrevi sobre a fotografia, onde minha
mulher me desafiou refletir, me debruço a imagem a seguir.
É
uma prosaica fotografia de um canteirinho da minha hortinha em preparação.
Aparece a terra revolvida, à direita a enxada, para dar ideia das dimensões por
comparação, no mais algumas plantinhas, solo com sombras projetadas de ramos de
árvores na volta.
Se prestarem atenção, aparecem pequenas folhas verdes. São mudinhas de
salsas e cebolinhas verdes que eu plantei e espero que vinguem. Ocorreu o
seguinte, comprei os temperos verdes no mercado. São plantas cultivadas em
hidroponia, ou seja, cultura em água. Como vieram com raízes aproveitei as
porções verdes no almoço e plantei os talos que sobraram. Pelo que se vê,
pegaram e estão crescendo vagarosamente.
Na verdade, eu como tenho origem rural, estou fazendo uma pequena
experiência, testando plantinhas frágeis, até então cultivadas em ambiente
controlado, estufa, água, temperatura, luz, nutrientes químicos líquidos
dosados. Coloquei-as de volta ao ambiente natural. Esses vegetais foram criados
artificialmente, na cidade, e não na terra de verdade, na roça.
Ao contrário de mim, vieram da estufa, para o barro. Ambiente
controlado, para local rude. Eu vim do bruto, da poeira, da roça, para cidade.
Do rústico, para o sofisticado. Do simples para o complexo. Do ambiente com
pouca informação, para o local com informações em excesso. Da ignorância, para a
educação formal. Do natural, para o artificial. Do pedregulho para o asfalto.
Eu sobrevivi, me adaptei parcialmente, transplantado da roça para a
cidade. Levei tempo. Será que as salsinhas e cebolinhas, tão frágeis, hidropônicas,
vão se adaptar ao ambiente duro da minha horta?
Será que é a metáfora da vida?
Porto Alegre, 21 de março de 2017.
Jorge Luiz Bledow
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ResponderExcluirErrata:
ResponderExcluirÉs VENCEDOR... somos vencedores...