O curso dos
acontecimentos caminha de forma natural. Tudo continua “rolando” como se nada
afetasse a condição e os princípios que regem o universo. O mundo gira. Acidentes
vão acontecendo, fenômenos se repetem e se superam. A natureza alinha-se e o
tempo parece não se afetar com nada.
Presidentes são
depostos, políticos e empresários são presos, juízes morrem. Eleições no Brasil,
nos Estados Unidos e em outros lugares do planeta. O presidente americano faz
discursos inacreditáveis para seus eleitores e para mídia. E tudo continua “como
Dantes, no quartel de Abrantes”. Será mesmo?
No jornal Zero Hora
de hoje, página 44, leio a frase do matemático e filósofo britânico, Bertrand
Russell (1872-1970), “Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte
indispensável da felicidade”.
Pensando bem é isso
mesmo. Desejamos coisas, buscamos a felicidade, sempre correndo atrás e quando
conquistamos algo, quando conseguimos o objetivo ou adquirimos algum bem
desejado, já não é o que queremos. Passamos, imediatamente, a buscar outras
coisas, mais coisas. E assim segue a vida.
O poeta gaúcho
Alceu Wamosy (1895-1923), disse mais ou menos assim: “... o que tenho, não é o
que quero, é aquilo que eu quis ter. O que eu tinha não o que eu queria... o
que terei não é aquilo que eu vou querer...”. Vejam, ele já sabia de muita
coisa.
É bem assim,
corremos atrás dos nossos desejos e quando os alcançamos, já não mais interessa.
Queremos mais, outra coisa, outra viagem, outro assunto. Parece o capitalismo
onde conquistamos bens, os quais, uma vez em nossa posse, parecem já não ser
importantes. O mais importante está um passo além, logo ali, quase ao alcance,
no entanto ainda é preciso lutar para colocar a mão naquilo que desejamos.
Assim é a vida. A
felicidade, talvez, seja isso, este caminho, esta jornada, esta luta por algo
mais. Pelo futuro incerto, mas de esperança e com liberdade. É uma jornada de
pequenas e constantes conquistas. Um passo atrás, às vezes, para ganhar mais
impulso e atingir um objetivo maior logo adiante. Uma robusta realização,
instantânea, que logo deve ser superada.
Não é preciso se
afobar. Basta “seguir em frente, ando devagar porque já tive pressa”, como diz
a letra da música de Renato Teixeira e Almir Sater.
E o curso normal da
natureza e do tempo, se encarrega de colocar cada coisa em seu devido lugar, a
seu devido tempo.
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Capão da Canoa, 02
de fevereiro de 2017.
Jorge Luiz Bledow
O filósofo Diógenes era muito simples. Não tinha casa, nem vestia as roupas convencionais. Andava dentro de um barril, que lhe servia de roupa de dia e, à noite, de abrigo, onde ele dormia, protegendo-se da chuva. às vezes, era visto a vagar, com uma tocha na mão. Quando lhe perguntavam o que fazia, dizia: "Estou tentando achar um homem honesto. Já viste algum?" Uma vez foi chamado a resolver uma questão de furto. O queixoso reclamava que o vizinho entrou em sua casa e levou alguns de seus bens. O filósofo logo encerrou o caso: "Bens? Que bens tens? O que chamas de bens é que te possui. Tu és que és os bem do que tens." E é verdade. Quando adquirimos algo, tornamo-nos escravos de nossas posses. Dedicamos nosso tempo, energia e pensamentos a conservar, manter e proteger o bem. Quanto mais o desejávamos, mais nos deixamos escravizar por eles. Quanto mais caros forem, tanto menos nos valorizamos em prol deles. Temos ciúme, zelo, e gastamos nossas energias e nossos outros recursos tomando conta dos bens, que na verdade, passaram a ser nossos donos. Por eles, brigamos, sujeitamo-nos até a matar ou morrer, em favor de nossos bens, que nem sequer ligam para a nossa existência. Um dos bens mais complicados, trabalhosos, caros, que as pessoas atuais têm, é exatamente o bem que não se tem. Paga-se um alto valor, pela aquisição, pela conservação, pelo uso, e pelas taxas, multas e outras despesas. Usa-se muito pouco, com relação ao tempo que levamos para adquiri-lo. Quando completamos sua aquisição, terminando de pagá-lo, já está velho, fora de moda, e já no custou, em despesas indispensáveis, o valor total da aquisição. E é um bem que está sempre exposto a todos os riscos: inundações, buracos, colisões, roubo... O cavalo do moderno ser humano, tão sagrado quando os cavalos para os antigos: o AUTOMÓVEL. Ele se torna nosso senhor absoluto.
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