quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O CURSO NATURAL

O curso dos acontecimentos caminha de forma natural. Tudo continua “rolando” como se nada afetasse a condição e os princípios que regem o universo. O mundo gira. Acidentes vão acontecendo, fenômenos se repetem e se superam. A natureza alinha-se e o tempo parece não se afetar com nada.

Presidentes são depostos, políticos e empresários são presos, juízes morrem. Eleições no Brasil, nos Estados Unidos e em outros lugares do planeta. O presidente americano faz discursos inacreditáveis para seus eleitores e para mídia. E tudo continua “como Dantes, no quartel de Abrantes”. Será mesmo?

No jornal Zero Hora de hoje, página 44, leio a frase do matemático e filósofo britânico, Bertrand Russell (1872-1970), “Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade”.

Pensando bem é isso mesmo. Desejamos coisas, buscamos a felicidade, sempre correndo atrás e quando conquistamos algo, quando conseguimos o objetivo ou adquirimos algum bem desejado, já não é o que queremos. Passamos, imediatamente, a buscar outras coisas, mais coisas. E assim segue a vida.

O poeta gaúcho Alceu Wamosy (1895-1923), disse mais ou menos assim: “... o que tenho, não é o que quero, é aquilo que eu quis ter. O que eu tinha não o que eu queria... o que terei não é aquilo que eu vou querer...”. Vejam, ele já sabia de muita coisa.

É bem assim, corremos atrás dos nossos desejos e quando os alcançamos, já não mais interessa. Queremos mais, outra coisa, outra viagem, outro assunto. Parece o capitalismo onde conquistamos bens, os quais, uma vez em nossa posse, parecem já não ser importantes. O mais importante está um passo além, logo ali, quase ao alcance, no entanto ainda é preciso lutar para colocar a mão naquilo que desejamos.

Assim é a vida. A felicidade, talvez, seja isso, este caminho, esta jornada, esta luta por algo mais. Pelo futuro incerto, mas de esperança e com liberdade. É uma jornada de pequenas e constantes conquistas. Um passo atrás, às vezes, para ganhar mais impulso e atingir um objetivo maior logo adiante. Uma robusta realização, instantânea, que logo deve ser superada.

Não é preciso se afobar. Basta “seguir em frente, ando devagar porque já tive pressa”, como diz a letra da música de Renato Teixeira e Almir Sater.

E o curso normal da natureza e do tempo, se encarrega de colocar cada coisa em seu devido lugar, a seu devido tempo.
.
Capão da Canoa, 02 de fevereiro de 2017.

Jorge Luiz Bledow 

Um comentário:

  1. O filósofo Diógenes era muito simples. Não tinha casa, nem vestia as roupas convencionais. Andava dentro de um barril, que lhe servia de roupa de dia e, à noite, de abrigo, onde ele dormia, protegendo-se da chuva. às vezes, era visto a vagar, com uma tocha na mão. Quando lhe perguntavam o que fazia, dizia: "Estou tentando achar um homem honesto. Já viste algum?" Uma vez foi chamado a resolver uma questão de furto. O queixoso reclamava que o vizinho entrou em sua casa e levou alguns de seus bens. O filósofo logo encerrou o caso: "Bens? Que bens tens? O que chamas de bens é que te possui. Tu és que és os bem do que tens." E é verdade. Quando adquirimos algo, tornamo-nos escravos de nossas posses. Dedicamos nosso tempo, energia e pensamentos a conservar, manter e proteger o bem. Quanto mais o desejávamos, mais nos deixamos escravizar por eles. Quanto mais caros forem, tanto menos nos valorizamos em prol deles. Temos ciúme, zelo, e gastamos nossas energias e nossos outros recursos tomando conta dos bens, que na verdade, passaram a ser nossos donos. Por eles, brigamos, sujeitamo-nos até a matar ou morrer, em favor de nossos bens, que nem sequer ligam para a nossa existência. Um dos bens mais complicados, trabalhosos, caros, que as pessoas atuais têm, é exatamente o bem que não se tem. Paga-se um alto valor, pela aquisição, pela conservação, pelo uso, e pelas taxas, multas e outras despesas. Usa-se muito pouco, com relação ao tempo que levamos para adquiri-lo. Quando completamos sua aquisição, terminando de pagá-lo, já está velho, fora de moda, e já no custou, em despesas indispensáveis, o valor total da aquisição. E é um bem que está sempre exposto a todos os riscos: inundações, buracos, colisões, roubo... O cavalo do moderno ser humano, tão sagrado quando os cavalos para os antigos: o AUTOMÓVEL. Ele se torna nosso senhor absoluto.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...