Jorge Luiz Bledow
A
professora de português, a Pinto, adotara para a sétima série, um método
diferente de avaliar a turma. Não sei se revolucionário, não sei se deu
resultados, mas pressão era grande.
- Todo mundo merece um 7 no início
do bimestre, dizia ela cheia de discursos e ensinamentos sólidos e poéticos.
Sete era a média para não pegar recuperação, portanto todo mundo largava com 7.
- À medida que vocês forem
apresentando trabalhos, participações, boas notas nos testes, dar-lhes-ei –
aproveitava para mesóclisar - pontos a mais ou a menos. Depende do esforço e do
estudo de cada um.
Justo, pensei. Depende de mim! Esforçar-me-ei!
E dê-lhe “estudo dirigido” que era o modelo usado na
época. Voz passiva-voz ativa, transitivos- diretos, transitivos-indiretos (ou
seriam intransitivos?). E por aí a Professora Pinto vendia o peixe.
Não sei como andavam minhas notas, acho quem vinham
crescendo. Mas que eu me esforçava isso sim. Lembro-me de um descontinho só que
ela me deu na leitura de um texto. Eu, como bom colono, li “Ritinha” com um
erre só, e não “RRitinha” com dois erres.
Bem, nesse dia, ou melhor: nessa noite, o assunto era
a colocação do pronome, antes, no meio ou depois do verbo.
Do alto de sua sabedoria, a Professora Pinto começou
perguntando para os alunos mais próximos: - Qual a conjugação verbal que admite
mesóclise?
Prá quê! Ninguém sabia. Ela, entre irritada e
previdente, tomou do caderno de chamada e avisou: - Ganha um ponto quem sabe e
perde um ponto quem não sabe.
Foi passando de classe em classe, de um em um: - Qual
a conjugação verbal que admite mesóclise?
Ninguém sabia, ninguém respondia. Todo mundo colou as
placas. E a Pinto, vai se chegando cada vez mais perto de onde eu tentava
sumir-me por baixo da cadeira.
Chegou à minha frente e tascou: - Qual a conjugação
verbal que admite mesóclise?
Ficou alguns segundos aguardando a minha resposta,
levantou a cabeça, olhou prá mim, me reconheceu e sem mais nem menos: - Ok! Um
ponto prá ti Jorge!
Ufa “salvar-me-ei” pela fama de bom aluno.
Mas hoje confesso: Naquela noite eu não sabia a
resposta!”
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