Sempre sentia um certo ciúme quando alguém lá de casa ficava doente. O paciente era tratado com esmero. De maneira especial. Quando meu irmão caia de cama, nada grave, uma indisposição qualquer, todas às atenções eram voltadas para ele. Canja de galinha, biscoitos, visita da vovó. Até aula ele podia faltar! Isso eu já considerava uma mordomia, aliás, na época eu nem conhecia esta palavra, muitos anos depois vim ter uma vaga idéia do significado pelas notícias que vêm do Planalto Central do Brasil.
Eu também prestava atenção, só de ouvir conversa dos adultos, em quem baixava hospital. Falavam da sopa às 11 horas, da cama que, girando uma manivela, levantava o travesseiro, do banheiro no quarto com chuveiro quente e tudo, da mesa com rodinhas que acercava e sentado na cama se tomava café. Ou seja, um monte coisas boas que nós crianças, não conhecíamos.
É claro que depois, nem tão depois, conheci a realidade. Saudável visitei avós, pais, primos, tias e tios, que estavam baixados. Pude, mesmo que precariamente, perceber as agruras e o sofrimento dos hóspedes. O almoço era sem sal, o café fraco e sem açúcar, sem contar as febres, curativos e variados relatos. Nem me atrevo a comentar cirurgias, supositórios e outros procedimentos médicos delicados. Queriam mesmo é ir para casa. E mais, tinha a tal da injeção! Que pavor da agulha. Como criança nunca entendi por que não inventavam uma forma menos pavorosa de introduzir medicamentos no organismo. – Via oral, por favor doutor!
Mas nem sempre a via oral afastava o sofrimento. No meu tempo todos os remédios, in-va-ria-vel-men-te, eram amargos. Quem não lembra da mãe dizendo: - Meu filho. Remédio amargo é melhor. Faz mais efeito!
Também tive meu momento de glória na infância. Foi quando fiquei enjoado, com um pouco de febre, dor de garganta, dores no corpo e coisa e tal. Fui tratado com remédios caseiros e melhoral infantil. Minha mãe fez um chá especial, adoçado com a brasa queimando açúcar no fundo da caneca. O máximo porém, com meu estômago embrulhado, foi quando meu pai trouxe uma água mineral com gás. Um santo remédio. Tomei um pouco no bico e arrotei em seguida. Passou o embrulho no estômago.
Agora, há poucos dias, meu filho torceu o pé. E lá fomos nós para ortopedia. Ele torcendo por uma bota, já imaginando os colegas deixando recados no gesso. Além de faltar aula, as mensagens dos amigos seriam o máximo.
Para sorte nossa não foi nada grave. Apenas enfaixaram o tornozelo. Os recados é que ficaram engessados e nada de remédios amargos.
Jorge Bledow
Nenhum comentário:
Postar um comentário